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ZIG: Guerra ao Terror


Quando tomei conhecimento da existência desse mangá, logo fiquei interessado. Além da premissa ser diferente do que costumamos ver em mangás, mesmo dentro da demografia Seinen, a dupla responsável pela obra é de bastante gabarito. Porém apenas recentemente a obra foi traduzida para inglês, e respectivamente, português. A arte ficou a cargo de Tetsuya Saruwatari, mangaká ainda inédito no Brasil, mas muito reconhecido por seu traço e seus brutais mangás de luta, como Riki-Oh, Dokuro, Tough e Damned, citando apenas alguns. Já o roteiro ficou por conta de Takashi Nagasaki, que talvez não soe familiar, mas já foi publicado no Brasil. Nagasaki é conhecido pelas suas parcerias e colaborações com o famoso Naoki Urasawa (Monster, 20th Century Boys), sendo até mesmo creditado como co-autor de algumas obras como Billy Bat, Master Keaton e Pluto, essa última publicada no Brasil pela Panini. 

ZIG foi publicado na revista Grand Jump da editora Shueisha entre 15 de março de 2017 e 16 de agosto daquele mesmo ano. A obra foi concluída em apenas 8 capítulos, o que rendeu um único volume encadernado. O mangá não possui adaptações para anime ou filme, e sinceramente, acredito que nunca terá, principalmente por conta dos fortes e controversos temas abordados nele. 

A história do mangá gira em torno de um ex-combatente japonês, que no passado serviu as forças armadas da ONU, chamado Zig. Zig atuou no Iraque em uma missão onde presenciou e foi afetado por um certo acontecimento que mudou sua maneira de perceber o mundo e as pessoas. O mangá tem início tempos depois, quando o protagonista trabalha como segurança em um banco de Hong Kong que é subitamente invadido por terroristas.

Capa aberta do encadernado japonês

ZIG é um daqueles mangás que dariam um ótimo filme de ação hollywoodiano. A obra possui tudo aquilo que os apreciadores desse tipo de filme gostam: cenas de ação com tiroteio, personagens emblemáticos, perseguição de carro e helicópteros e prédios inteiros vindo abaixo. Mas não se engane, por mais exagerada que essa descrição possa parecer, o mangá é bastante "pé no chão", principalmente no que diz respeito à abordagem geopolítica da história. Nesse aspecto, existem elementos muito interessantes que são peças-chave para o desenvolvimento do enredo, como por exemplo a guerra entre Sérvia e Croácia, a luta pela independência do Tibete, o posicionamento da China frente às potências ocidentais e os grupos terrorista Al-Qaeda e Estado Islâmico. Inclusive logo na primeira página do mangá vemos alguns terroristas do grupo Al-Qaeda executando alguns prisioneiros. Uma cena bem forte, mas semelhante ao que ocorre no mundo real.


O mangá se inicia com cenas bem impactantes

O grupo de ladrões de banco que aparece logo no primeiro capítulo, comandados por um homem conhecido popularmente como "coronel" são os grandes "vilões" do mangá. As ações dos mesmos podem resultar em uma guerra civil, inclusive o próprio roubo realizado no banco tem ligação direta com isso. Coronel é um veterano que atuou na guerra entre a Sérvia e a Croácia. Agora, adivinhem quem é contratado para impedir o grupo? Sim, ele mesmo: Zig. 

Zig possui grande habilidade em combate, mas se recusa a matar os inimigos. Ele alega que por mais que tenha experienciado a guerra, e até mesmo tenha sido vítima dela, ele não perdeu seu coração. É verdade que tal discurso soa bonito, mas no mundo real infelizmente as coisas não funcionam assim. Contudo, isso tem a ver com a mensagem que o mangá quer passar. Não posso me aprofundar, pois o mangá é volume único, então eu poderia acabar atrapalhando a experiência daqueles que se interessarem pela obra. Mas dando um exemplo simples e que não prejudica a leitura, o próprio Coronel, por mais que o roteiro o coloque na posição de vilão, ele é um homem que se mostra sensato e que sabe reconhecer quando ganhou ou perdeu uma batalha. 

O coronel. Reparem o nível da arte do Saruwatari nessa página.

ZIG é um mangá que eu definitivamente recomendo para aqueles que querem ler uma história mais adulta e realística. É uma excelente obra de volume único. Mas é justamente aí que reside uma das minhas poucas criticas ao mangá: acho que apenas um volume foi pouco para explorar todo universo e os personagens presentes na estória. Não digo que o mangá deveria se alongar demais, mas acho que algo entre 3 e 5 volumes seria o suficiente para trabalhar melhor alguns aspectos, como por exemplo, seria muito legal ver mais da atuação de Zig no Iraque, ou talvez ver o comportamento do Coronel durante a guerra Servo-Croata. O universo criado tem potencial para isso, e o roteirista já tem certa experiência com mangás mais adultos.

Uma outra observação que tenho a fazer, mas que não atrapalha o saldo positivo da obra, é que as vezes Zig parece eficiente demais. Digo, ele tem mais dois companheiros que trabalham com ele, um indiano e outro aparentemente chinês, mas eles são bem trapalhões. Fica até meio estranho ver o cara mais eficiente do grupo ser justamente o japonês. Eu entendo que as vezes esse tipo de coisa se faz necessária para que o público alvo do mangá (que são obviamente os japoneses) possam sentir familiaridade com o personagens, mas poxa, os outros dois também são policiais treinados, não há justificativa para agirem de tal maneira. Mas como eu disse, isso não atrapalha na experiência de leitura. Fica a recomendação de "ZIG" para vocês. Em uma escala de 0 a 10, eu daria uma nota 8 para o mangá.

Espero que tenham gostado e nos vemos numa próxima!!!

Hugo

Hugo

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