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Recado a Adolf: Mais que um Mangá, uma Aula de História

 




Fala galera, viemos aqui trazer mais um clássico consagrado de Osamu Tezuka, para muitos o “Deus dos mangás”, que a Editora Pipoca & Nanquim trouxe para o público. Isso mesmo, hoje vamos falar um pouco sobre o mangá Recado a Adolf, que dessa vez, diferente da edição publicada pela Editora Conrad, será publicado em apenas 2 volumes. Hoje traremos a análise do Vol. 1.

Sinopse: Nesta história nós acompanharemos a vida de três Adolfs. O primeiro deles é filho de um oficial nazista do consulado da Alemanha no Japão. O outro é um japonês filho de imigrantes judeus. E o terceiro é... Adolf Hitler! Três pessoas completamente distintas, com apenas o nome em comum, cujos destinos estão entrelaçados com o de um repórter japonês chamado Souhei Touge, detentor de um valioso documento que guarda um grave segredo sobre Hitler. Um segredo que, se revelado, colocará fim à marcha dos nazistas e destruirá o pior Adolf que o mundo já conheceu. Produzido nos anos 1980, esse é um dos mangás mais adultos de Osamu Tezuka e um dos últimos de sua impressionante carreira, feito no estilo realista dos gekigás.

 

A trama começa com Souhei Touge, um jornalista japonês em um cemitério, algo bem peculiar, e diz que vai narrar a história de 3 Adolfs, ou seja, ele narra sobre Adolf Kaufmann, Adolf Kamil e, claro, Adolf Hitler.

 

Logo em seguida o mangá já mostra Souhei em solo alemão, participando da cobertura dos Jogos Olímpicos em agosto de 1936, com a Alemanha sob pleno domínio do Fünher, que sediou os Jogos Olímpicos para demonstrar a força de seu país. No meio da narração dos jogos, Isao Touge, irmão de Souhei que faz intercâmbio na Alemanha, entra em contato com seu irmão e de cara diz que precisa falar com ele um assunto seríssimo, que vai abalar o poder de Hitler.

 

Pois bem, a data foi marcada para o encontro na residência de Isao. Souhei chega ao local e, para surpresa de Souhei, ele encontra seu irmão morto: esfaqueado e jogado pela janela de seu apartamento. Ele posteriormente descobre que seu irmão teve a vida ceifada pela Gestapo por conta do envolvimento com a ideologia comunista. Souhei entra em desespero mas procura achar algum pista do algoz. Entretanto, a polícia alemã aparece e diz que vai levar o corpo para uma delegacia distrital às pressas. Quando Souhei chega no local indicado, ninguém sabe de seu irmão. Ele vai em todas as delegacias e ninguém sabe do paradeiro do corpo. Porém, ao retornar à morada de seu falecido irmão, o proprietário do prédio estranhamente diz que nunca viu Isao, os vizinhos dizem a mesma coisa e no apartamento dele há outra família que ali residia. Sim, isso tudo em um curto período de tempo.

 


É notório a frustração de Souhei e seu autoquestionamento por um instante de "Será que eu estou louco e isso é coisa da minha cabeça?". Entretanto, ele sabe que aquilo não se trata do seu imaginário, ele viu seu irmão assassinado! Aí que o leitor nota o forte controle do governo alemão e o temor da sociedade com ele. Souhei então resolve seguir pistas e tentar encontrar o corpo de seu desaparecido irmão. Posteriormente Souhei descobre o motivo da morte de seu irmão: foi por conta de um documento que ele teve em suas mãos, documento esse de extrema importância que poderia até mesmo destruir todo o governo do ditador nazista. A Gestapo não consegue colocar as mãos no documento e Isao desaparece com ele antes de sua morte. Neste 1º volume podemos ver que o mangá principalmente gira em torno desta carta, especialmente quando seu conteúdo é apresentado ao leitor, e várias pessoas de várias nacionalidades anseiam pela carta e o que tem em seu conteúdo. Não é apenas uma corrida entre o governo alemão e Souhei, é Souhei contra o mundo.

 

Capítulos futuros começam a narrar a vida de Adolf Kaufmann e Adolf Kamil, duas crianças de origem alemã que vivem em solo japonês. Porém Kaufmann é filho de um funcionário do consulado alemão no Japão e nazista, já Kamil é filho de um padeiro judeu, e neste momento você percebe que a pureza e inocência da mente de uma criança, pois por muitas vezes o pai de Adolf Kaufmann tenta impedir que seu filho tenha contato com judeus, afirmando que eles são raça inferior, dentre outras atrocidades. Todavia, Kaufmann recusa o conselho de seu pai, onde fica bem nítido que o preconceito é uma doença transmitidas por adultos.

 


Por fim Souhei volta para o Japão, que lembrando é um aliado da Alemanha, e ele decide não confiar no governo em busca de sua verdade. Contudo ele é perseguido mesmo sendo apenas um civil, acusado de ser comunista, fazendo com que ele fique em uma situação vulnerável. Entretanto ele está convicto de seus ideais, mesmo que as autoridades tentem sempre atrasá-lo, seja de forma velada ou explícita. Mesmo assim ele tenta com todas as suas forças proteger os documentos que estão em sua posse e seu conteúdo de forma inabalável, tudo em prol da memória de seu irmão e para o bem do mundo.

 

Para quem lembra de Osamu Tezuka por suas obras de cunho infantil, como Astro Boy, se depara com uma narrativa bem mais complexa e pesada em Recado a Adolf, a obra mostra para o leitor muitas referências e fatos que aconteceram naquela época. É mostrado de tudo um pouco: preconceito, xenofobia, machismo, autoritarismo e tortura. Muitos leitores tendem a relatar o traço infantilizado de Tezuka em suas obras, o que pode até ser verdade, mas nesta obra Tezuka traz um traço bem mais sério, em que é possível entender muito bem as expressões faciais e corporais de aflição, medo e solidão, fora a ambientação muito bem trabalhada. São apresentados temas sérios, com raríssimos e precisos alívios cômicos, mas repleto de reflexões.

 


Recomendo?

Sim, é uma obra que você começa a ler e devora capítulo atrás de capítulo. É possível perceber que o autor te dá mais um capítulo daquilo que você deseja, porém, ele muda um pouco de tema no capítulo seguinte para não ficar maçante. É uma obra que tem uma fácil leitura, com traduções de palavras em japonês em vários quadros. Também é muito importante citar que a obra foi meticulosamente ambientada em fatos históricos, são citados fatos de conquista do Império Japonês sobre a China e a anexação de países europeus ao regime nazista.

 


Sobre a polêmica do “histórico de atleta”.

A maioria dos leitores acredito que já estão cientes do quadro no qual um dos personagens em seu leito de morte fala que “pelo meu histórico de atleta, não é uma doencinha qualquer que vai me derrubar” (foto abaixo), frase dita pelo atual presidente brasileiro em meio à pandemia de COVID-19. Pois bem, o que eu posso dizer desta tradução é que é apenas um quadro em mais de 600 páginas do mangá que não atrapalha em absolutamente nada a experiência da obra, isso eu posso garantir. Já do ponto de vista de marketing realmente devo admitir que foi uma boa sacada da editora (ou tradutora), isso óbvio, por toda a discussão que foi gerada pelo quadro, pessoas a favor e outras contra, o que obviamente gerou um marketing gratuito para o anúncio.

 


Então deixo aqui para vocês o link para adquirir essa maravilhosa obra, lembrando que caso você faça a compra dos 2 volumes de uma vez, você vai ter 30% de desconto e cada volume sai pelo valor de R$62,93 que já é uma boa economia.

Recado a Adolf #01,  Recado a Adolf #02

Recado a Adolf conta com sobrecapa com alto relevo e verniz localizado, além disso o mangá conta com um lindo marcador de páginas. Suas 612 páginas de miolo pólen são muito bem trabalhadas, e eu particularmente não encontrei nenhum erro na impressão, no corte ou colagem e, apesar de ter essa quantidade assustadora de páginas para algumas pessoas, não é um mangá pesado e eu consegui ler tranquilamente deitado sem dificuldades.


Review por @wtf.edson

Mangás Brasil

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